sexta-feira, 26 de agosto de 2011

a mentirosa liberdade

"Liberdade não vem de correr atrás de 'deveres' impostos de fora, mas de construir a nossa existência"

comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expôe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma - como se fosse algodão-doce colorido. com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bemenquadrados, de não participar de melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. medo de não ser livres.
Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezeds fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a sindrome do "ter de". fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. medicamos como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão, e a elforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cercada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.

preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, calorizado e belo que eu? Alguém mora num condominio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos que de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidad, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias, e sucesso, carregamos mais um ônibus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a queria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a minima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir - ou nos falta o que vem depois: maturidade?

parece que do começo ao fim passamos a vida sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa loucura correnteza. Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? (...) Já precisa trabalhar? que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?
Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo  a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa loucura correnteza. Ter opniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desisteressantes, como roupas  ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulhger nem um homem poderoso. É possivel estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, fisico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura e desorientada, em crise. Liberdadenão vem de correr atrás de "deveres"impostos de fora, mas de costruir a nossa existência, para a qual, como todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.

                                                                                                                            escritor: LYA LUFT

Um comentário:

  1. Grande Homem que Deus continue dando inspiração. para isso Ore sempre! Abraço!

    ResponderExcluir